06/12/2015

Das couraças que a vida nos dá.

Vivo tudo num sopro. Talvez por isso eu nunca tenha tido muita paciência para alimentar crises e choro. Aliás nunca gostei de chorar, e quando o fazia era em silêncio, no escuro. Até na hora de enxugar as lágrimas e lavar o rosto, era no escuro. Eu não queria ver meus olhos inchados e vermelhos, meu nariz escorrendo, minha face patética. 

Gostava que aquele fosse um momento meu. Se precisasse de aconchego, me encolhia toda debaixo de uma coberta e me sentia acolhida pelo meu próprio calor. Era o meu eu coitadinha, sendo confortado pelo meu eu segura de si. Isso me bastava. Se me perguntavam "o que foi?" eu respondia "nada". Não era para fazer doce. Eu realmente não queria compartilhar minhas mágoas, porque eu sabia que ia passar. E passava.

Sei que para algumas pessoas, a dor emocional chega a se tornar física. Deixam de dormir, deixam de comer, sentem-se esgotadas. Eu não. Chorarei o que tiver de chorar. Chegarei até o fundo do poço e até cavarei mais um pouquinho só para ter certeza. Mas quando bater a fome eu vou comer. E se eu sair de casa a mágoa certamente não será convidada para o passeio. Talvez por isso, foram e ainda são raros os "o que foi?"

Não sei bem como interpretar esse meu jeito de lidar com a minha tristeza. Alguns dirão que eu nunca sofri de verdade. Para estes, faço minhas as palavras de Evandro Fióti : "Cêis vê as pinga que eu tomo mas num vê os tombo que eu levo". 

Acho que a explicação está em outro lugar. Não cresci acostumada a ver mulheres sofrendo. Sofrendo por amor, ou por falta de dinheiro, ou por qualquer outra coisa. No entanto preste atenção à minha colocação. Eu não ter visto elas sofrer não significa que elas, de fato, não sofriam. Simplesmente não tinham tempo para isso eu acho. Ou então, certas situações já eram tão enraizadas nas suas vidas, talvez até viessem de outras gerações, que elas não enxergavam ali real motivo de sofrimento.